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Meu Repertório: Mauro Rech

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Quando pensamos em uma orquestra, é comum associarmos a palavra a notas e partituras. Por trás dos diversos instrumentos que a compõem, existem pessoas, que carregam histórias para além das grandes obras interpretadas. Com a série ''Meu Repertório'', celebramos os 70 anos da OSPA, resgatando narrativas que acompanham a história da sinfônica.

Qual a missão do músico? Despertar sentimentos e emoções. É assim que Mauro Rech, músico mais antigo da OSPA em atividade, define sua profissão. Há 47 anos, Mauro deixou Santa Cruz do Sul para continuar seus estudos de música em Porto Alegre. Naquele mesmo ano, ele ingressou como violinista da OSPA. Mas os palcos não foram suficientes para Mauro, em 1982 ele passou a dividir a carreira de violinista com a de professor na Escola da OSPA. Conheça a trajetória do músico na entrevista abaixo!

1. Onde você nasceu? Como iniciou os estudos de violino?

Natural de Santa Cruz do Sul, eu iniciei meus estudos de violino aos sete anos com meu pai, Lindolfo Rech.  Posteriormente, fui aluno de Marcello Guerchfeld, professor do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Também estudei sob a orientação dos professores Juan Carlo Figares (Uruguai), Humberto Carfi (Argentina) e Saschko Gawriloff (Alemanha).

2. Como a música entrou na sua vida?

Sendo o mais jovem de cinco irmãos, nasci ouvindo música, pois meu pai tocava violino e todos os meus quatro irmãos estudavam violino ou piano.

3. Quando a OSPA passou a fazer parte da sua história?

No início do ano de 1973, com 19 anos de idade, deixei minha cidade natal, Santa Cruz do Sul, e vim para Porto Alegre. Naquele mesmo ano, fui aprovado e admitido como músico da OSPA. 

4. Esse ano você completa 47 anos de OSPA, em um ano muito importante para orquestra, com o aniversário de 70 anos, como é para você fazer parte dessa história?

Hoje, passados 47 anos, só tenho coisas boas a recordar. Na OSPA, mais do que colegas, encontrei músicos maravilhosos e amigos. Todos eles com um só objetivo: honrar a nossa profissão de músico, fazendo sempre o melhor com dedicação e amor. Assim, sempre prevaleceu a harmonia na música e na convivência.Tenho muito a agradecer a OSPA. É um privilégio fazer parte dessa grande orquestra.

5. Você conheceu o maestro Pablo Komlós? Como foi trabalhar com ele?

O maestro Pablo Komlós, além de um profundo conhecedor de música, foi uma grande pessoa. Ele admirava os músicos, não só como um grupo que compunha uma orquestra, mas como uma grande família com os mesmos ideais: fazer boa música. Ele lutou muito pela orquestra e conseguiu sempre superar todos os desafios e dificuldades para mantê-la viva e atuante como permanece até hoje.

6. Quais as melhores lembranças que você tem desse tempo na OSPA?

Foi muito prazeroso dar aula.  É realmente o que mais gosto.  Eu tinha 28 anos quando comecei a lecionar na Escola da OSPA, era relativamente jovem,  falava a mesma linguagem dos alunos. Meu relacionamento com eles sempre foi, e continua sendo, de camaradagem, sem abdicar da minha posição de professor, exigindo empenho, atenção, estudo e resultado.

7. Tem algum concerto, algum regente ou solista que tenham marcado sua trajetória na OSPA? Se sim, por quê?

Foram inúmeros os renomados  solistas e regentes, de fama internacional, que passaram pela OSPA. Um dos muitos concertos emocionantes foi o das Missões, nas ruínas de São Miguel, que teve como solista o tenor Jose Carreras. Para citar apenas um.

8. Você pensa em parar de tocar? Quais são os planos para o futuro?

Cheguei a fase das realizações, não mais de novos planos. Muitos planos que tinha concretizei. Acredito que todos nós, dentro do contexto social, temos um papel a desempenhar, uma missão a cumprir. O médico tem a missão de salvar vidas; o piloto de um avião tem a missão de conduzir seus passageiros com  segurança ao seu destino. É assim em todas as atividades humanas, sempre há uma missão a cumprir, umas mais simples, outras mais complexas, porém todas igualmente importantes e necessárias. Mas e o músico, qual sua missão? A missão do músico é, através da música, mexer com o lado mais humano das pessoas, que é o seu lado de dentro, onde se encontram seus melhores sentimentos. A música nos motiva, nos alegra, nos conforta, nos leva a refletir, sempre tem seu momento oportuno. Enfim, a música alimenta nossa vida interior. Por isso, a música deve ser ouvida não só pelos ouvidos, mas pelo coração. Em suma, a missão do músico é manter vivos nossos melhores sentimentos e despertar emoções. O escritor, jornalista e também político Artur da Távola, que foi um estudioso, apreciador de música, especialmente da música erudita, tinha um programa na TV Senado, aos sábados. Ele sempre finalizava seu programa com a seguinte frase: “Música é vida interior e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão”.

OSPA - Orquestra Sinfônica de Porto Alegre