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Meu Repertório: Tiago Linck

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Quando pensamos em uma orquestra, é comum associarmos a palavra a notas e partituras. Por trás dos diversos instrumentos que a compõem, existem pessoas, que carregam histórias para além das grandes obras interpretadas. Com a série ''Meu Repertório'', celebramos os 70 anos da OSPA, resgatando narrativas que acompanham a história da sinfônica.

A Escola da OSPA fez parte da formação musical de quase um terço dos músicos que compõem a OSPA atualmente, entre eles o trompetista Tiago Linck. Apesar da Escola ter sido parte importante de sua carreira, suas paixões pela música e pelo trompete vieram muito antes. Foi em casa, através de seu irmão Fábio Linck, que Tiago teve o contato com as primeiras notas e que o sonho de compor uma orquestra nasceu. Confira na entrevista abaixo os caminhos e as experiências que guiaram Tiago Linck até a OSPA.

1. Como a música entrou na sua vida? Quando surgiu o interesse pela música de concerto?

Costumo dizer que a música, literalmente, faz parte da minha vida desde que nasci. Isso porque meu irmão, Fábio Linck, também trompetista, já tocava em bandas de escola antes de eu nascer e estava sempre praticando em casa. A música e o som do trompete, portanto, estão nas minhas lembranças mais remotas. Mas foi aos cinco anos que, de fato, eu fui iniciado na música. Meu irmão realizou alguns testes de percepção comigo e logo me encaminhou para fazer parte de uma banda marcial recém criada em nossa cidade, Gravataí. Na banda, comecei tocando percussão e dois anos depois passei a tocar trompete. Neste mesmo período, também através do meu querido irmão, pude assistir pela primeira vez uma orquestra sinfônica. Não por acaso, essa orquestra era a OSPA! Naquele momento, estar entre aqueles músicos, fazendo aquele tipo de música, se tornou um objetivo a ser alcançado. Felizmente, alguns anos depois esse sonho se tornou realidade. 

2. Qual o papel e a importância da Escola da OSPA na sua trajetória como músico?

Foi na Escola da OSPA que comecei a estudar música formalmente. Os ensinamentos que recebi dos meus queridos professores me guiaram de forma muito sólida na continuação dos meus estudos. Na Escola da OSPA, também tive minhas primeiras experiências tocando em orquestra, integrando a OSPA Jovem, na época chamada carinhosamente de OSPINHA. Com esse mesmo grupo, tive o privilégio de realizar diversos concertos como solista. Mesmo tendo trilhado novos rumos após meus estudos na Escola da OSPA, todas essas experiências contribuíram profundamente para moldar o músico que sou hoje.

3. Quando e como surgiu o interesse em ingressar na OSPA?

Como citei anteriormente, desde que assisti a OSPA pela primeira vez, ainda criança, eu soube que tocar em uma orquestra sinfônica seria uma grande realização pessoal a ser alcançada. Alguns anos e muitas horas de estudos depois, tomei conhecimento sobre um concurso para novos músicos da OSPA. Para mim a decisão era óbvia, não foi preciso pensar duas vezes antes de fazer minha inscrição e participar das provas. 

4. Como foi ingressar na OSPA tendo sido aluno da Escola?

Como aluno da Escola, eu assistia a muitos concertos da OSPA e sempre me imaginava fazendo parte daquele grupo de músicos. Essas experiências, além de enriquecedoras, me estimulavam a estudar muito e foram decisivas na minha trajetória. A OSPA é uma referência musical, sem dúvida, mas para os alunos da Escola, a orquestra é sinônimo de inspiração, motivação, de um objetivo a ser atingido. E hoje, sendo um músico da orquestra que estudou na Escola da OSPA, eu sinto que tenho o dever de inspirar as novas gerações, assim como meus mestres fizeram comigo. Esse compromisso com o futuro e o respeito pelo passado têm um significado muito profundo para mim. 

5. Hoje você é professor da Escola da OSPA. Qual o sentimento de ver os seus alunos no lugar onde você esteve e poder repassar os seus aprendizados?

Me sinto privilegiado pela oportunidade de poder agradecer, através dos meus conhecimentos, por todos os ensinamentos e momentos únicos que a Escola da OSPA me proporcionou. Dar aulas na Escola tem sido parte importante na minha carreira, e ter a possibilidade de contribuir com o desenvolvimento dos meus alunos é algo extremamente gratificante. 

6. Você foi aluno do maestro Evandro Matté quando ele ainda era músico, como foi essa experiência? Como é a relação de vocês hoje? 

Fui aluno do Evandro entre 2002 e 2005 no extinto projeto de extensão da Unisinos chamado "Sinos Acorda". Comecei a estudar com ele logo que regressou de uma especialização no Conservatório de Bordeaux, na França, onde estudou com o grande pedagogo francês Pierre Dutot. O Evandro trouxe na bagagem todos os ensinamentos desse grande mestre da escola francesa de trompete, e eu tive a sorte de absorver tudo o que ele estava sedento por transmitir. O período como aluno de trompete do Evandro foi muito significativo na minha caminhada musical e serei sempre grato por tudo o que ele fez por mim. Felizmente, a relação professor-aluno do passado foi muito saudável, e hoje podemos cultivar uma boa amizade, além do respeito e confiança profissional de ambas as partes.

7. Tem algum concerto, algum regente ou solista que tenham marcado sua trajetória na OSPA? Se sim, por quê?

Sem dúvida muitos momentos foram marcantes, cada um com uma razão especial, mas gostaria de citar dois concertos que têm um lugar reservado com muito carinho em minha memória. O primeiro foi o concerto de despedida do antigo Teatro da OSPA, em 2008, quando a orquestra executou, sob regência de Isaac Karabtchevsky, o poema sinfônico "Uma Vida de Herói", de Richard Strauss. Foi um concerto lindo, emocionante, histórico. O segundo é bem mais recente, foi em abril de 2019. Na ocasião, pude atuar como solista junto à orquestra, sob regência de Stefan Geiger, executando um concerto dedicado a mim, escrito pelo grande músico e amigo, Gilberto Salvagni. Esse foi o primeiro concerto para trompete e orquestra que tive o privilégio de estrear, e fazê-lo ao lado dos meus colegas da OSPA foi mais um sonho que se tornou realidade.  

8. Você é um dos professores comprometidos com o projeto “Escola da OSPA na Comunidade”, como é fazer parte desse projeto? Qual a importância de levarmos música de concerto para a comunidade?

O projeto "Escola da OSPA na Comunidade" permite que grupos de câmara, formados por alunos da Escola, levem a música que é desenvolvida em sala de aula para lugares onde, comumente, ela não está presente. Com o Quarteto de Trompetes, os alunos já se apresentaram em asilos, escolas, ONGs e presídios. Esta interação é extremamente positiva e enriquecedora para todos os envolvidos. Não somente o público é estimulado a descobrir e reagir a novas sensações, novos sons, mas também os alunos, que estão criando aquele momento através de sua música, tem a chance de entender qual o significado e propósito daquilo que fazem. Quando o que é trabalhado em sala de aula ou na rotina diária de estudos não é compartilhado, é muito fácil o aluno passar a questionar a razão que o fez escolher a música. Por isso, considero que apresentações musicais, como as que acontecem no "Escola da OSPA na Comunidade", são fundamentais na formação artística e humana de nossos estudantes.

OSPA - Orquestra Sinfônica de Porto Alegre