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Meu Repertório: Ange Bazzani

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Quando pensamos em uma orquestra, é comum associarmos a palavra a notas e partituras. Por trás dos diversos instrumentos que a compõem, existem pessoas, que carregam histórias para além das grandes obras interpretadas. Com a série ''Meu Repertório'', celebramos os 70 anos da Ospa, resgatando narrativas que acompanham a história da sinfônica.

Muitos estrangeiros e estrangeiras fazem parte da história da Ospa desde sua fundação em 1950. A fagotista Ange Bazzani nasceu em Bucaramanga, cidade ao norte da Colômbia, iniciando os seus estudos em música ainda criança em Bogotá, local onde cresceu. Em 2013, Ange partiu de Bogotá em direção ao Brasil para trabalhar no projeto social Neojiba (Núcleos Estudantis Orquestrais Juvenis e Infantis da Bahia). Em sua jornada, rumo a outros costumes, pessoas e crenças, o primeiro desafio que surgiu foi a língua: Ange não falava nada de português. Após passar por diversos festivais e orquestras brasileiras, em 2017 Ange foi selecionada para integrar a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo de fagote solista em quase sete décadas de história da Ospa. Confira abaixo os caminhos que levaram Ange Bazzani até a sinfônica.

1. Você nasceu na Colômbia. Por que decidiu vir para o Brasil?

Eu vim para o Brasil porque um amigo colombiano, que morava em Salvador, na Bahia, me falou que precisavam de uma fagotista para trabalhar em um projeto social chamado Neojiba. Eu estava finalizando a minha formação na faculdade na época, então decidi que queria sair por um tempo da Colômbia. Isso foi há 6 anos e meio.

2. Como foi se mudar para o Brasil? Quais os maiores desafios que você enfrentou nessa mudança?

Eu saí de Bogotá, que é uma cidade enorme no meio das montanhas, e fui morar na Bahia. Foi um choque grande. Acho que o primeiro e maior desafio foi a língua, pois eu não falava nada de português. Desse momento em diante, as coisas foram transcorrendo, os brasileiros, em geral, são muito cálidos e acolhedores. Acho que o maior desafio foi esse da língua. Ah, e comer feijão todo dia (risos).

3. Quando a música entrou na sua vida? Quando surgiu o interesse pela música de concerto?

A música entrou na minha vida quando eu era criança, com uns 6 ou 7 anos. Alguns dos membros da minha família tinham muita proximidade com o "fazer música", então sempre estive rodeada de instrumentos musicais. A música de concerto foi o caminho que me foi mostrado desde aquela época, porque comecei a estudar em uma escola de música que estava ligada diretamente com a Orquestra Filarmônica de Bogotá.

4. Quando a OSPA passou a fazer parte da sua história?

A Ospa começou fazer parte da minha vida quando eu estava estudando na academia da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), em São Paulo. O meu professor de fagote me mostrou o edital, ele estava bastante empolgado. Vim fazer a prova e amei Porto Alegre, quis muito passar.

5. Você lembra o seu primeiro concerto com a Ospa? Como foi?

Eu tive dois primeiros concertos. O primeiro foi não oficial, me chamaram duas semanas para fazer cachê. Eu já tinha passado no concurso, mas ainda não tinham me contratado como efetiva da orquestra. Foi muito legal, mas, como sempre que se toca com uma orquestra nova, um pouco intimidante, principalmente porque eu estava fazendo o primeiro fagote. Depois de dois anos, aconteceu realmente meu primeiro concerto como parte da Ospa, momento em que o Adolfo, primeiro fagote até a minha chegada, estava se aposentando. Na primeira parte do concerto, ele tocou o primeiro fagote, e, para a segunda parte, fizemos um ato simbólico em que ele me entregava a cadeira de primeiro fagote. Foi um momento muito emotivo, pois o Adolfo completava em torno de 40 anos de Ospa. Foi uma honra para mim aquele momento, guardo ele no meu coração.

6. Como é ser a primeira mulher a ocupar o cargo de fagote solista na Ospa?

É uma grande responsabilidade que carrego com muito amor. É, com certeza, uma das minhas principais motivações para sempre fazer o meu melhor. 

7. Tem algum concerto, algum regente ou solista que tenham marcado sua trajetória na Ospa? Se sim, por quê?

Enquanto a maestros, passaram muitos pela orquestra e, na verdade, é sempre um desafio, mas acho que um concerto que me marcou muito foi uma das minhas primeiras apresentações com a Ospa em que tocamos as sinfonias 6 e 9 de Villa Lobos. Essas obras têm alguns dos mais lindos solos de fagote da literatura. Esse concerto foi muito importante porque foi a primeira vez que realmente me expus diante da orquestra e do público de Porto Alegre com solos de alto nível. Foi muita pressão, mas a adrenalina correu bem (risos).

OSPA - Orquestra Sinfônica de Porto Alegre